terça-feira, 5 de maio de 2009

CONVERSA PARALELA - Alexandre Júnior


Alexandre Júnior, o Juninho, 23 anos, é músico freelancer, e também baixista e vocalista da banda Acesso. Filho de Alexandre Naka (baterista da Narguilê Hidromecânico), ele falou no "Conversa Paralela" sobre a liberdade necessária para se trabalhar com música, sobre falta de identidade cultural, dentre outras prosas. Confira.

"o que não deve existir, pelo menos para os profissionais da música, é o desmerecimento do trabalho dos outros músicos"

Como se deu a escolha de algumas composições suas para o primeiro álbum da Soraya, “Sol”? Você costuma compor muito por encomenda?

Ela me ligou pedindo umas músicas, aí gravei umas 5 ou 6 pra ela ouvir e escolher, nesse caso não foi por encomenda, só escolhi algumas que já estavam prontas, ela me deixou bastante à vontade quanto ao estilo. O resultado me deixou muito satisfeito como compositor, a Soraia canta muito!

Quando a gente gravou “Ilícito”, música do Tiago Humaitá, teu vocal me surpreendeu muito pra esse estilo de MPB. Mas a população daqui te conhece mais como frontman da banda Acesso. Como está sua relação com o reggae?

Assim... Meu trabalho no acesso é totalmente diferente do que eu escrevo diariamente, apesar de que eu acredite que no fim, tudo é música. Se é reggae ou jazz, pra mim não importa. A única coisa que importa é que tem que ser bem feito. A nossa preocupação, há algum tempo atrás, era ter um produto com chances reais de mercado; por isso o pop-reggae era a célula principal do acesso, mas acho que o segundo disco vai quebrar um pouco isso, a gente tá conversando para definir como vai ser a cara do segundo.

Você já tentou contato com artistas nacionalmente conhecidos, pra mostrar seu trabalho?

Honestamente?! Não... conheço alguns músicos que trabalham com artistas nacionais, mas até hoje ainda não mandei nada. Quem sabe agora em 2009!

Aqui em Teresina, assim como em outros lugares, a gente lida com a realidade dos ‘grupinhos de músicos’: o grupinho alternativo, a galera do metal, do regional, o grupinho da MPB cult, do rock, do samba... E que muitas vezes tem até subdivisões. O que você pensa sobre essas barreiras criadas? Quem cria essas barreiras?

Acho isso natural, as pessoas se aproximam por afinidade. Agora, o que não deve existir, pelo menos para os profissionais da música, é o desmerecimento do trabalho dos outros músicos, do mesmo jeito que um cara estuda pra ser um guitarrista de metal, outro estuda pra ser um violonista de samba. Gosto não se discute, só tem que existir respeito, no mais, tá tudo em casa.

Por ser multi-instrumentista, arranjador, compositor, cantor e técnico de som, não seria nada injusto te colocar entre os músicos mais versáteis da nova geração da música piauiense. Com que tipo de sonoridade você está mais envolvido atualmente?

Acho que atualmente a minha inspiração está mais relacionada a um projeto que estou desenvolvendo com alguns parceiros (Vinícius bean, Lívio Nascimento). É o mais livre, musicalmente falando, de que já participei. O som que a gente tá fazendo se parece com tudo, e ao mesmo tempo não se parece com nada. Jazz, mpb, soul, samba, clube da esquina... Ou seja, é aquilo que eu falei lá no começo: música. Se quiser, mando uma música pra você ouvir. No final do ano a gente vai lançar o disco.

Você acha que a versatilidade pode trazer algum problema, como atrapalhar na busca por um estilo próprio, por uma sonoridade que se defina logo nos primeiros acordes, ou isso é besteira?

Eu acho que a versatilidade pode caminhar lado a lado com esse estilo próprio a que você se refere, conheço muitos compositores e artistas que gravam e tocam do samba ao rock’in roll (Lenine, Gilberto Gil, Caetano...) e nem por isso perdem a “cara” do som que fazem. São as particularidades que diferenciam.

Quais são as promessas da música piauiense? Gente nova, em que você realmente apostaria as suas fichas...

Acho que essa é a pergunta mais difícil... (rs...) A gente tem aqui um cenário musical muito talentoso, mas que infelizmente não tem visibilidade pelo fato de que a própria cidade não valoriza o que se faz aqui, algumas iniciativas estão sendo tomadas para reverter essa situação (abraço pro Márcio Menezes e pro mike, bumba records), mas os resultados irão aparecer com o tempo.

No Piauí, há uma grande carência por manifestações tradicionais de música, com características fortes em que o povo se reconheça... As que temos, são muito localizadas. E sem usarmos de hipocrisia, o boi é hoje uma cultura muito mais maranhense do que piauiense, embora tenha nascido aqui. Você concorda, e como você acha que isto se reflete na música local?

Acho que esse problema não é só musical, é muito mais cultural... Por varias vezes tocando na noite, algumas pessoas que não conheciam o trabalho do Acesso, por exemplo, perguntaram se a gente era de fora. A maioria do povo piauiense (brasileiro) tem essa mania de brilhar mais os olhos para quem vem de outro estado. Isso é só uma constatação, não tenho nenhum estudo a respeito, acho que você com essa proposta de entrevista poderia ir atrás de algum sociólogo ou estudioso, eu seria o primeiro a ler essa entrevista, acredite! O artista reflete as sensações do meio em que vive, por isso ao meu ver, essa falta de identidade cultural é uma bola de neve.

Grande Juninho, obrigado, deixe seu recado e pode vender o peixe...

Obrigado por me convidar pra essa entrevista, muito bacana essa sua iniciativa. Só queria dizer que fazer música aqui é uma opção “dolorida”, mas que vale a pena quando se tem reconhecimento pela parcela do povo que valoriza o nosso trabalho. Obrigado de coração a todos que acreditam na música piauiense.

3 comentários:

  1. Não conheço seu trabalho, mas assino em baixo em quase tudo que você falou.
    Infelizmente, para muitos, a música piauiense não é valorizada por ela mesma, e sim por querer dizer que valoriza-se o que é produzido aqui.
    Música é música, e eu não preciso dizer que moro no Piauí, nem que tomo cajuína todo dia em minha letra, pra dizer que estou fazendo música piauiense (considere isso como uma crítica a sociedade, e não ao entrevistado, nem ao autor do blog).

    No mais, sucesso em seus projetos, e ficou faltando links pra ter acesso a alguns materiais!
    abraço!

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  2. Parabéns, Victor... EXCELENTE blog!

    E Alan, concordo com você.

    Abraço!

    Ah, e o Naka hoje é coordenador de música da FUNDAC. Acaba de assumir, com uma vontade danada de fazer um bom trabalho.

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  3. Mandou bem Junim!!!hehe
    Música é música!
    Se preocupem mais com a música!!
    Esse papo q, ahhhh, pq o Reggae não vende, o pagode sim...isso é maior papo de tapado!
    Música de qualidade vende até sendo tocada com um triângulo de borracha...rsrs
    Abço Victor!!
    Boa iniciativa!

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